Dos Beatles ao bate-estaca - o ruído vendido como música e cultura
José Fernando Nandé
No dia 26 de setembro de 1969 era lançado o último álbum gravado em estúdio pelos Beatles, Abbey Road. Sim, os Beatles lançariam ainda Let It Be, oficialmente o último a chegar ao mercado, mas que foi gravado meses antes das sessões que deram origem a Abbey Road. Bom, isso é história para ser discutida em liturgia de boteco, para os que ainda têm fígado em pleno funcionamento, é claro! A pergunta é: o que veio depois, em qualidade, com alma, no mundo pop?
Respondo: pouco ou nada. Estão aí os shows e festivais nos mostrando o retorno dos velhinhos com suas guitarras e bengalas, que nos fazem crer que a boa música pop se esgotou no final da década de 1960, ou no início da década de 1970. Talvez, a efemeridade da música pouco criativa que se seguiu, também possa, e deve, ser explicada pela máquina de moer carne chamada "indústria cultural", ávida por novos produtos na prateleira, em velocidade digna do mundo industrial idealizado por Ford e, atualmente, aprimorado pelo Toytismo dos japoneses, ou à computadorizada indústria 4.0, presente em todas as fábricas do mundo da competição, em que a arte não é mais importante do que um parafuso.
Caminhou-se assim, até o nosso tempo, para o esgotamento do modo de se fazer música em escala para o consumo, a tal ponto que essa própria indústria obrigou-se a "reciclar" antigos sucessos, pois nem ela aguentava mais tanta porcaria. É isso, porcaria forjada justamente na exploração da falta de cultura de seus consumidores, que adoram o ruído, o bate-estaca, com nome de música, em letras sofríveis e óbvias. Afinal, as variações de três acordes é limitada e até que durou muito. Na realidade, essa indústria tem uma única cultura traduzida no ganhar dinheiro, a pop grana, mais nada.
A música vale pelo que gera na alma das pessoas e não pela forma que é composta ou tocada. Tudo se esgota, até que algo de novo aparece como estes sucessos dos anos 60.possivelmente outros 60 anos depois aguardemos pois.
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