Decálogo do Artista - Gabriela Mistral

José Fernando Nandé

Ao ler poetas chilenos, deparei-me com Gabriela Mistral (1889 — 1957), que aqui é pouco lembrada, a não ser em nome de rua ou de escola. Não é difícil em seus escritos, a verificação de que estamos diante de uma poeta formidável, ou poetisa como prefere alguns, agraciada com o Nobel de Literatura de 1945, o qual lhe fez justiça.
De seus poemas, tomamos a liberdade de traduzir o que segue e que pode nortear alguns artistas para que eles não caiam na falsa arte exigida pelo mercado e não se tornem mercadores de modismos. Eis, pois, o Decálogo do Artista: 

I. Amarás a beleza, que é sombra de Deus sobre o Universo.
II. Não há arte ateia. Ainda que não ames o Criador, o afirmarás criando a sua semelhança.
III. Não darás a beleza como falsa isca para os sentidos e sim como o natural alimento d’alma.
IV. Não serás pretexto para a luxúria nem para a vaidade e sim para o exercício divino.
V. Não buscarás no mercado nem levarás tua obra a ele, porque a beleza é virgem e o que está no mercado não é ela.
VI. Sairá de teu coração o teu canto e ele te fará purificado.
VII. Tua beleza se chamará também misericórdia e consolará o coração dos homens.
VIII. Darás tua obra como se dá um filho: tirando sangue de teu coração.
IX. Não te será a beleza o ópio que entorpece e sim o vinho generoso que te levará para a ação, pois se deixas de ser homem ou mulher, deixarás de ser artista.
X. De toda criação sairás com vergonha, porque foi inferior ao teu sonho, e inferior a este sonho maravilhoso de Deus, que é a Natureza.

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