RETÓRICA - aula 1




A Retórica para a comunicação efetiva num mundo globalizado 


Aula 1 - Prof. José Fernando 


Definitivamente, vivemos no século da comunicação, em que o tempo entre a emissão da informação e a recepção tende a zero, não importando o nível de ruídos nos meios em que ela se propaga. Assim, ler, escrever, falar, ou seja, se expressar – corretamente, com lógica e de forma convincente –, tornaram-se prementes para quem se aventura em exposições quase impositivas de suas ideias e pontos de vista. 



O LIMBO SOCIAL – Hoje, nos parece quase que impossível para qualquer sucesso – e isso para quaisquer indivíduos – em todos os aspectos da vida moderna, a falta de domínio dos mais elementares artifícios da comunicação humana. Não se comunicar – com eficiência, lógica, eloquência, elegância e arte – joga-nos no limbo social, pois a imagem pessoal que temos e sustentaremos por toda nossa vida estará ligada e gravada ao que pensamos e expressamos, por imposição dessa grande aldeia de vaidades por coisa alguma em que se transformou o mundo, sobremodo no aspecto comunicação. 

O SILÊNCIO NÃO É ARGUMENTO – Enquanto alguns alcançam sucesso em nossa sociedade pela sua capacidade de comunicação, muitos preferem o silêncio e se obrigam a seguir padrões ditados justamente pela minoria ruidosa, mesmo que não aceite os princípios dessa minoria, segue-a sem contestá-la por ter medo de se expressar e argumentar. 

O PAPAGAIO ENFADONHO - A proposta deste curso é estudar as técnicas de comunicação pessoal existentes desde os mais esquecidos tempos, reunidas em que chamamos de Retórica. Reforçamos aqui, que este curso se faz bem diverso dos cursos relâmpagos de oratória que se proliferam pelo país, em que se privilegiam somente a fala e o gestual e se despreza o mais importante, a argumentação. Um papagaio pode até falar, mas não pensa nem argumenta, mesmo engraçado, com o tempo torna-se enfadonho e sem graça, pois se repete. 

RETÓRICA – latim rhetorica, grego ῥητορικὴ τέχνη [rhêtorikê – é a arte ajustada à técnica do bem se expressar ao se empregar uma linguagem na comunicação de forma eficaz e persuasiva. Sua principal ferramenta é o discurso estratégico persuasivo voltado a determinado público, no sentido de dar luz a um problema, por meio da lógica e eloquência, para que se alcancem mudanças de atitudes e práticas para resolvê-lo em parte ou no todo. 

SOFISTA – Deturpado, hoje este predicado é quase sinônimo de falso. Ele aponta um sujeito que defende seus pontos de vista olhando para o próprio umbigo. As coisas, portanto, têm por centro a relatividade, a qual tudo pode e acontece a partir de “verdades” próprias, mescladas ao real coletivo, num universo conceitual que exige do sofista construções fantasiosas contínuas e assistemáticas. É natural do sofista o cultivo de aparências – ou seja, por meio da irrealidade demonstra-se o real aparente, sem exames de suas entranhas. O sofista, no conceito hodierno, é, em última análise, um mentiroso e como vamos ver adiante, a mentira é o pior caminho para a argumentação e, portanto, deve ser desconsiderada pelos bons retóricos. Não é à toa que os principais filósofos desde Aristóteles refutavam a Escola Sofística, pois entendiam a Filosofia como a busca pela verdade. Para ilustrar o tema, citaremos apenas dois filósofos com obras contundentes contra os sofistas e seus métodos, em que destacam a desgraça dos que creram nesses ilusionistas: 

Sêneca
Sêneca, o Moço (4 a.C, 64 d.C) – filósofo estoico que nos deixou, entre outras, a obra Apocoloquintose do Divino Cláudio, em que ataca, de maneira satírica, porém elegante, o imperador Cláudio que, supostamente, havia remunerado áulicos para que jurassem a sua ascensão aos céus, depois da morte. 

Voltaire (François-Marie Arouet, 1694-1788) – filósofo iluminista que escreveu Cândido, conto satírico-filosófico (1759), produzido em três dias. É a história de um jovem, Cândido, vivendo num paraíso e recebendo ensinamentos do otimismo por meio de seu mentor, Pangloss. A experimentar os desencantos do mundo, Cândido se desilude. 


RETÓRICA SOFISTA – Irmanada à Lógica e à Dialética, a retórica surge maliciosa e capenga no século V a.C., na região hoje conhecida como Sicília. Citações históricas apontam que essa arte foi introduzida em Atenas por Górgias, filósofo sofista, primeiramente utilizada nos meios políticos e judiciais. No início, sua relação com a verdade era duvidosa, pois seu objetivo era convencer, persuadir a audiência simplesmente, nas disputas mais diversas. Assim, infelizmente, por esse tempo, a Retórica ganhou ares da arte de iludir, para se ganhar contendas sob os mais absurdos argumentos 

SOFISTAS MODERNOS - Por uma breve passagem pelos sites e redes sociais, podemos observar que os sofistas fizeram escola, pois proliferam absurdos tamanhos de fazer inveja a Pangloss. Basta um boato forjado numa esquina, em tarde de vento, para que temerários e apressados internautas, sob os mais variados propósitos, ilícitos inclusive, formulem teorias mirabolantes sobre esse ou aquele assunto; é bastante a opinião de um tolo famoso de cinco minutos para que se tenha a mais límpida verdade, tão confiável quanto o néscio que a sustenta, com a autoridade de um Papa na Idade Média. 

Cícero discursa no Senado Romano, o maior orador de seu tempo
A RETÓRICA AMPLIADA – Nos meios acadêmicos há uma tendência de se trabalhar com um conceito mais amplo de Retórica. Ao considerarmos a Retórica como arte, temos que, necessariamente, ligá-la aos sentidos e a capacidade que temos de absorvê-la em suas diferentes linguagens. Assim, a arte da eficiente expressão, alcança o texto, dando aos literatos (poetas inclusive) a Estilística; ao músico, a mensagem de contestação, por exemplo; ao artista plástico, ao diretor de cinema e aos atores, o ferramental precioso da argumentação e do convencimento do público. 

A ERA INFORMACIONAL EXIGE O RENASCER DA RETÓRICA – É de se abismar que a Retórica, de caráter interdisciplinar – como estudo sistematizado, e portanto como Ciência - esteja afastada de nossas cátedras acadêmicas, funcionando como penduricalho de disciplinas específicas como no caso da Publicidade, Propaganda ou Jornalismo. É intuitivo perceber e, portanto, desnecessários esforços para maiores demonstrações, a sua importância e necessidade ao sujeito que se senta à mesa do computador, ou acesse redes sociais por dispositivos móveis. A comunicação faz parte de sua vida e é praticamente regida por ela. Tentar se comunicar em nossos dias pelas infovias é premente e não existe outra maneira para se fazer isso do que pelo estudo da Retórica, porque não é o fato somente de se comunicar, mas saber as técnicas da arte do bem falar, bem escrever, enfim, de ser. 

ELOQUÊNCIA E LÓGICA– Na próxima aula vamos tomar contato com as primeiras técnicas da Retórica. Começaremos pela Eloquência e a Lógica, que são o início para alcançarmos o pleno domínio das idéias e meios de expressão. Até breve!

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