O homem sensato somente fala do que conhece. Retórica - aula 2
Aula 2 - Prof. José Fernando
Calíope, musa grega da Eloquência |
ELOQUÊNCIA - o conceito de Eloquência está intimamente ligado ao conceito de Retórica. Não existe um bom orador sem uma ou a outra, sendo que a Retórica abrange a Eloquência no seu desenvolvimento como método de expressão. A Eloquência é um conjunto de técnicas que ilumina a expressão e determina a pessoa que se expressa de forma fluente, precisa, elegante e persuasiva.
O DOM DA PALAVRA – é comum, ao se observar um bom orador, ouvirmos em meio aos aplausos: “fulano fala tão bem, ele tem o dom da palavra”. Sim, alguns nascem mais desenvoltos e se expressam melhor do que a maioria das pessoas. Mas, mesmo esses que têm o dom da palavra não dispensam estudos para se fazerem melhores ainda.
Na realidade, todos têm o dom da palavra, mas infelizmente, por um fator ou outro, sobremodo a timidez e a falta de boa formação escolar, não o desenvolvem e se sentem satisfeitos em abrir a boca somente para monossílabos ao telefone. Além disso, existem as questões cultural e educacional, em que o aluno brasileiro praticamente não é convidado a se expressar, tomando para si apenas uma atitude passiva em sala de aula. A educação em nosso país é falha nisso, pois não oferta disciplinas para o aperfeiçoamento da expressão em todas as suas formas, além da redação escolar, quadrada e óbvia voltada apenas para os vestibulares, o que é muito pouco.
A PERSUASÃO – a Persuasão, ou convencimento, é o fim da Retórica e a demonstração seu meio. O bom orador ou escritor é aquele que convence ao demonstrar suas ideias e pontos de vista. Pode um orador ou escritor ser provido de grande conhecimento, mas caso não consiga demonstrar com clareza aquilo que defende, ele será apenas isso, uma pessoa que opina sem convencer. De acordo com Aristóteles, a persuasão é uma espécie de demonstração, “pois certamente ficamos completamente persuadidos quando consideramos que algo nos foi demonstrado". Mais adiante, com o auxílio da Lógica, vamos aprender os princípios da boa demonstração.
Martin Luther King Jr. (1929-1968) pastor e ativista político estadunidense: dominava perfeitamente a Retórica |
FERRAMENTAS PARA CONVENCER – Neste ponto vamos ter que apelar para os gregos, especificamente e novamente a Aristóteles, pois foram eles que cunharam as definições iniciais da Retórica. São três classes de meios de persuasão (apelos à audiência): ethos, pathos e logos, que devem, necessariamente, fazer parte de um bom discurso ou texto.
Ethos – é a forma de convencer o público pelas qualidades e qualificações, como caráter e autoridade. São notórios entre nossos alunos os comentários sobre a desenvoltura deste ou daquele professor em sala de aula: “ele entende a matéria, é uma autoridade no assunto, mas não sabe ensiná-la”, ou ainda: “o professor falou um monte, o tempo todo, e ninguém entendeu nada”. Ou seja, ser apenas autoridade no assunto não é o suficiente, é preciso saber explicá-lo e para todos os tipos de público. Por isso, recomenda-se a verificação antecipada de quem fará parte da plateia que vai nos ouvir. Por exemplo, falar para adolescentes é muito diferente do que falar para adultos, escrever para o público em geral não é a mesma coisa de escrever para iniciados em certos assuntos específicos.
Um bom artifício, quando aparentemente nos falta autoridade em determinado assunto, é agregar ao discurso citações de autoridades ou instituições especialistas. Demonstrar conhecimento e realmente conhecer o assunto abordado já é meio caminho para o convencimento ou persuasão. Sensato, portanto, é falar do que se sabe, e quando não se sabe, há de se procurar estudar o assunto que estará em pauta, de maneira contrária, o fiasco é líquido e certo.
Phatos – usar a emoção para convencer o público. As escolas de comunicação introduziram no Brasil, inspiradas no marketing e no jornalismo norte-americano, a objetividade. Sim, a objetividade em nosso tempo é importante. No marketing, temos que convencer o máximo de pessoas no menor tempo possível e no jornalismo a mesma pressa é necessária, pois a quantidade de informações difundidas todos os dias é cavalar, forçando o leitor e ou expectador a selecioná-las a partir de mensagens quase que telegráficas.
Num discurso ou texto, as coisas funcionam de maneira diversa. Não se trata de sermos prolixos, mas sim de obedecermos as técnicas de cada forma de comunicação. A Retórica tem suas próprias normas para persuasão e muitas vezes não cabe nela a objetividade em moda. Grandes oradores, que trabalham com o emocional das pessoas, costumam falar muito e, quanto mais falam, mais o público fica atento a eles. Qual é mágica desses “encantadores de serpentes”? São várias, a principal delas é saber contar uma história, geralmente apoiada em metáforas, capaz de estabelecer uma relação de compartilhamento de experiências emocionais com o público. A emoção é solidária e desconhece os ponteiros dos relógios, fale, escreva e encante.
Logos – o uso do raciocínio na construção de argumentos. No estudo da Lógica vamos abordar com mais detalhes a racionalidade no discurso ou texto. Nada mais constrangedor, além de não dominar o assunto, é orador que não sabe usar a lógica para expor o que pensa. Um absurdo evoca sempre outro absurdo, isso é fato. Caso se parta de afirmação mal formulada ou não provida de verdade, o discurso será desastroso, o que geralmente provoca o riso e o escárnio do público.
Antes de falar algo, o orador deve estar ciente da verdade nele contido e de seus possíveis desdobramentos lógicos. Iniciar o discurso com algo conhecido e aceito por todos e daí tirar argumentos aceitáveis é o caminho. Há técnica para se conseguir um bom encadeamento lógico do que se fala e se escreve, mas a intuição nunca deve ser desprezada, principalmente diante de situações em que temos que apelar para o improviso. Geralmente, pessoas que possuem o hábito de ler bons livros e periódicos conseguem notável desempenho neste ponto da Retórica, pois podem apelar na construção do raciocínio a tabelas, ou estatísticas ou gráficos, os quais são forjados na lógica matemática, a qual é de difícil contestação. Os conhecimentos de História, Antropologia, Mitologia e outras ciências também ajudam na construção do pensamento indutivo, na busca do objetivo principal da Retórica, a persuasão.
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