A dúvida de amor do alfaiate Carlos Gomes


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Carlos Gomes
Aos deterministas que afirmam ser o meio e as condições de vida fatores condicionantes do destino das pessoas, Antônio Carlos Gomes (1836-1896) é a antítese dessa manca teoria tão cara aos "filósofos" de um livro só. Carlos Gomes, ou simplesmente Nhô Tonico, como ele mesmo gostava de ser chamado e assim assinava, nasceu em Campinas. Criança, perdeu a mãe, assassinada aos 28 anos de idade. Foi criado com os irmãos pelo pai, sempre em grandes dificuldades e, por isso, trabalhou em alfaiataria costurando calças e paletós para "financiar" seus estudos musicais.

Antes de alcançar fama mundial, a partir da Itália, como compositor de Ópera, a trajetória de Carlos Gomes passa pela música "popular" para a época. Aos 15 anos de idade compunha valsas, quadrilhas e polcas. Em 1857 compõe a modinha "Suspiro D'alma", com versos de Almeida Garret. Depois da apresentação de algumas de suas obras no Rio de Janeiro e já com fama na corte e financiado por uma bolsa do Império, ele foi estudar na Itália, onde teve seu talento reconhecido. Daí em diante a história do autor da ópera "O Guarani" é bem conhecida. Por isso vou me ater somente à música "Quem Sabe?", uma das canções de cunho popular e muito ao gosto de todos os públicos por mais de século, com versões de arranjos gravadas por cantores populares e eruditos.

Francisco Leite de Bittencourt Sampaio 
A letra tem como base os versos do jovem poeta romântico Francisco Leite de Bittencourt Sampaio (1834-1895). A data da pareceria é de 1859, e essa canção tem seu espírito romântico reforçado pela saudade que Carlos Gomes sentia de Ambrosina, sua namorada, filha da família Correia do Lago. Ambrosina teve sua memória eternizada na música, mas foi só isso. Carlos Gomes haveria de casar-se na Itália, com Adelina Péri.
 Aqui vão os versos da primeira estrofe, para uma breve análise:

Quem Sabe?

Tão longe, de mim distante
Onde irá, onde irá teu pensamento
Tão longe, de mim distante
Onde irá, onde irá teu pensamento

Já no primeiro verso, notamos a vocação para música imposta ao poema em sete sílabas poéticas bem medidas (redondilha maior). O tema já sobressai nele, a distância que separa os amantes e, a partir daí, o poeta avança para a dúvida, coisa tão cara aos românticos, ao questionar onde estaria o pensamento da amada.

Nos versos seguintes, são varições sobre a distância que os separa e a dúvida no coração de quem ama a partir de juras de amor. Fórmula perfeita, juntada à genialidade da música de Carlos Gomes, para a canção cair no gosto popular, pois este tema, o amor com seus sofrimentos, é eterno na poesia e, portanto, fala aos corações de todas as gentes. Veja no restante da letra e a interpretação selecionada de Diana Pequeno:

Quisera saber agora
Quisera saber agora
Se esqueceste, se esqueceste
Se esqueceste o juramento
Quem sabe? Se és constante
Se, ainda, é meu teu pensamento
Minh'alma toda devora
Da saudade agro tormento
Tão longe, de mim distante
Onde irá, onde irá teu pensamento
Quisera saber agora
Se esqueceste, se esqueceste o juramento
Quem sabe? Se és constante
Se, ainda, é meu teu pensamento
Minh'alma toda devora
Da saudade agro tormento
Vivendo de ti ausente
Ai meu Deus, ai meu Deus que amargo pranto
Vivendo de ti ausente
Ai meu Deus, ai meu Deus que amargo pranto
Suspiros, angustias, dores
Suspiros, angustias, dores
São as vozes, são as vozes
São as vozes do meu canto
Quem sabe? Pomba inocente
Se também te corre o pranto
Minh'alma cheia d'amores
Te entreguei já n'este canto
Vivendo de ti ausente
Ai meu Deus, ai meu Deus que amargo pranto
Suspiros, angustias, dores
São as vozes, 
São as vozes do meu canto
Quem sabe? Pomba inocente
Se também te corre o pranto
Minh'alma cheia d'amores
Te entreguei já n'este canto.

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